Por: Nelson de Paula.
Dom Manuel II - "O Patriota" - 06/09/2015
Dom Manuel procurou sempre seguir uma política de aproximação à Grã-Bretanha. Este imperativo era ditado não só por uma orientação geo-política já seguida pelo seu pai, mas também como um recurso para fortalecer o trono. Considerava-se que o casamento do rei com uma princesa inglesa colocaria definitivamente a casa de Bragança sob a proteção da Inglaterra.
No entanto, a instabilidade do país, o recente regicídio e a lentidão das investigações sobre este, atrasaram as negociações até que a morte do rei britânico, Eduardo VII, lhes pôs fim. O velho monarca, amigo pessoal de Carlos, havia sido o grande protetor da Casa de Bragança e, sem ele, o governo liberal britânico não tinha especial interesse pela manutenção do regime monárquico em Portugal.
Sendo anglófilo, e admirador do espírito britânico, Manuel defende a partir da entrada de Portugal na guerra, uma participação activa, instando os monárquicos a não lutarem contra a república e a porem de lado as tentativas restauracionistas enquanto durasse o conflito, e a unirem-se como portugueses na defesa da Pátria, chegando mesmo, no exílio, a ter solicitado a sua incorporação no exército republicano português.
Mas ao contrário do que esperava, a maioria dos monárquicos não corresponde às suas expectativas, pois eram germanófilos, que esperavam que a vitória do kaiser se saldasse pela restauração da monarquia. O rei por seu lado acreditava que só o apoio à Grã-Bretanha garantia a manutenção das colónias portuguesas, que se perderiam para a ambição alemã em caso de vitória destes, quer Portugal fosse uma república ou uma monarquia.
Mas apenas aqueles mais próximos do rei se ofereceram para lutar, embora a República não tenha aceite os serviços de nenhum monárquico. O próprio monarca se pôs à disposição dos aliados para servir como melhor pudesse. Ficou de início um pouco desapontado quando o colocaram como oficial da Cruz Vermelha britânica.
Mas o esforço que desenvolveu ao longo da guerra, participando em conferências e recolha de fundos, visitando hospitais e mesmo os feridos na frente, acabou por ser muito gratificante. As visitas á frente foram dificultadas pelo governo francês, mas a amizade com Jorge V era suficiente para desbloquear esses entraves. O seu esforço nem sempre foi reconhecido. Anos mais tarde, em entrevista a António Ferro, lamentou-se.
"A sala de operações do Hospital Português, em Paris, durante a guerra, foi montada por mim. Sabe o que puseram na placa da fundação? ‘De um português de Londres’."Ao rei se deveu a criação do departamento ortopédico do hospital de Sheperds Bush, que por sua insistência continuou a funcionar até 1925, assistindo aos mutilados de guerra.
Uma prova de reconhecimento dos ingleses para Manuel e para com Portugal foi o facto de Jorge V, tê-lo convidado a ocupar um lugar a seu lado na tribuna de honra do desfile da vitória, em 1919.