Por: Nelson de Paula.
Dom Manuel II - "O Patriota" - 18/10/2015
Cerca de 1926 o objetivo do real investigador já havia mudado e, abandonando a idéia da biografia, concentrou-se na descrição dos livros antigos da sua biblioteca. Mais do que uma simples lista, a obra foi aproveitada pelo autor para descrever as glórias passadas de Portugal, descrevendo cada obra não só bibliograficamente, mas acompanhando-o com um ensaio sobre cada autor e cada assunto do livro, inserindo-o no seu contexto histórico.
A sua interpretação era fundamentada com documentos e rigor científico, e o resultado final só pode ser criticado pelo marcado amor à sua pátria, bem patente na leitura e que o leva a uma exaltação dos valores ancestrais da Grei, ainda assim desculpáveis num exilado. Sendo uma obra de tema específico, o número de exemplares era de tiragem limitada e obtido por subscrição.
Estava ilustrado por fac-símiles das obras tratadas e escrito em português e em inglês. O primeiro volume da obra “Livros Antigos Portuguezes 1489-1600, da Bibliotheca de Sua Magestade Fidelíssima Descriptos por S. M. El-Rey D. Manuel em Três volumes foi publicado em 1929, tendo Manuel se deslocado ao palácio de Windsor para entregar em mão o exemplar ao rei Jorge V, que havia sido o primeiro subscritor da obra. O volume debruça-se sobre dois manuscritos, cinco incunábulos e trinta e três livros impressos em Portugal até 1539.
A obra recebeu excelentes críticas dos especialistas e o rei dedicou-se de imediato ao segundo volume, que abrangia o período de 1540 a 1569. O trabalho foi estafante, mas, com exceção das sobrecapas, estava terminado em 1932. O rei faleceria inesperadamente pouco depois, tendo o terceiro volume sido publicado, sob a supervisão da sua bibliotecária, Miss Margery Withers, já postumamente.
Este volume já só é uma listagem de obras, sem os ensaios que enriqueciam os anteriores, e que deram ao rei a merecida reputação de historiador e mais erudito dos reis portugueses. O seu busto está hoje no átrio de entrada da Biblioteca Nacional em Lisboa.
Embora nenhum dos alegados pactos entre os dois ramos da dinastia tenha levado, como se viu, a um acordo definitivo para além de qualquer dúvida, é de notar que, ao longo de todo o exílio, D. Manuel II nunca se procurou entender quer com o ramo brasileiro dos Orleans e Bragança, quer com a linhagem do Duque de Loulé no que toca à sua própria sucessão. Apesar de todas as dificuldades criadas quer pelas diferentes inclinações políticas e pela mudança de lealdade dos integralistas, o rei nunca duvidou onde estava a legitimidade.