Por: Nelson de Paula.
Dom Manuel II - "O Patriota" - 20/09/2015
A preocupação com a situação anárquica agravou-se com o começo da Primeira Guerra Mundial. Temia que a situação do país, combinada com a aproximação da Espanha às potências ocidentais, levasse a Inglaterra a substituir Portugal pelo seu vizinho como seu aliado, e que o próprio país fosse o preço cobrado por Afonso XIII pela sua entrada na guerra.
Depois do fracasso da primeira incursão monárquica, e perante o que parecia desinteresse da parte de D. Manuel II, já que este não punha fé em movimentos baseados na força, ganharam vigor os apoiantes do ramo absolutista, que apoiavam os descendentes de Miguel I, e que tinham participado no movimento. Para contrariar isso, o monarca terá alegadamente entrado em negociações diretas com os representantes miguelistas.
Pretendia-se que Miguel de Bragança reconhecesse D. Manuel II como rei e em troca que este reconhecesse a linhagem de D. Miguel I como segunda na linha de sucessão, restabelecendo os direitos e cidadania portuguesa aos pretendentes miguelistas. De acordo com uma notícia publicada na imprensa, falou-se da ocorrência de um encontro entre D. Manuel II e Miguel de Bragança, em Dover, a 30 de janeiro de 1912, onde se teriam trocado cartas protocolares.
A veracidade desse encontro e os resultados efetivos ainda hoje são discutidos. Argumentaram os seus adversários que o conteúdo daquelas cartas não correspondia ao que se tinha previamente acordado, tendo ficado o encontro por acordos quanto ao modo de ação na luta contra a república, enquanto que no que toca à sucessão nenhum acordo efetivo teria sido levado a cabo. D. Manuel II não abdicou dos seus direitos como rei.
Por outro lado, é possível que esta interpretação tenha surgido apenas em consequência de parcialidade por parte de alguns elementos constitucionalistas adversos ao acordo. A situação não ficou de todo resolvida, pois ainda houve uma posterior tentativa de entendimento no Pacto de Paris. Depois do falhanço das incursões monárquicas continuam os levantamentos ocasionais, sem mais que repercussão local, e que o monarca condenava, exortando os seus correligionários a organizarem-se e a fazerem propaganda, de forma a restaurar o regime pelo voto, e não pela força.
Esta opção pareceu viável quando a ditadura do general Pimenta de Castro, em janeiro de 1915, quebrou momentaneamente o monopólio político do Partido Democrático e, numa tentativa de captar as simpatias mais conservadoras, retirou as restrições à liberdade de associação que desde o 5 de outubro limitavam os monárquicos. Entre abril e maio de 1915 abriram-se 55 centros monárquicos (33 no Norte e 12 no Centro do país), mas perante esta abertura cerrou fileiras todo o espectro republicano e em 14 de maio de 1915 a revolução saiu à rua.