Por: Nelson de Paula.
Sidónio Pais 4º Presidente de Portugal - 03/04/2016
Entra-se então numa espiral de violência que não poupa o próprio presidente: a 5 de Dezembro de 1918, durante a cerimónia da condecoração dos sobreviventes do NRP, Augusto de Castilho, sofreu um primeiro atentado, do qual conseguiu escapar ileso; o mesmo não aconteceu dias depois, na Estação do Rossio, onde foi morto a tiro.
A 14 de Dezembro de 1918, após jantar no Restaurante Silva, localizado no Chiado, José Júlio da Costa dirigiu-se para a Estação do Rossio, onde aguardou a chegada do Chefe de Estado. Quando Sidónio Pais se preparava para o embarque, José Júlio da Costa furou o cordão policial que o protegia, e disparou a pistola, dissimulada pelo seu capote alentejano.
O primeiro projétil alojou-se junto do braço direito do Presidente, e o segundo, fatalmente, no ventre, fazendo com que a vítima caísse de imediato por terra. Embora não existam provas convincentes, desde aquele tempo circulam teses que apontam para o envolvimento da Maçonaria na preparação do assassinato de Sidónio Pais, alegando-se que José Júlio da Costa estaria de alguma forma ligado àquela sociedade secreta.
Apesar desses rumores, apenas se sabe que, José Júlio da Costa nutria grande simpatia pelo grão-mestre da época, Sebastião de Magalhães Lima. O próprio, em carta enviada a um correlegionário, afirma ter mantido contato com ele, mas que o achou muito doente, receando mesmo pela sua vida que tão preciosa é a esta nossa tão amada terra.
Carecem de prova documental ou testemunhal os rumores de que teria escrito uma carta a Magalhães Lima, a qual, sem mencionar o assassinato a que se propusera fazer, teria sido encontrada nos bolsos do Grão-Mestre quando aquele foi preso e conduzido aos calabouços do Governo Civil de Lisboa na noite do assassinato.
O assassinato de Sidónio Pais foi um momento traumático para a Primeira República, marcando o seu destino: a partir daí qualquer simulacro de estabilidade desapareceu, instalando-se uma crise permanente que apenas terminou quase oito anos depois com a Revolução Nacional de 28 de Maio de 1926 que pôs termo ao regime.
Os funerais de Sidónio Pais foram momentosos, reunindo muitas dezenas de milhares de pessoas, num percurso longo e tumultuoso, interrompido por múltiplos e violentos incidentes. Com este fim, digno de um verdadeiro Presidente Rei, Sidónio Pais entrou no imaginário português, em particular dos sectores católicos mais conservadores, como um misto de salvador e de mártir, mantendo-se durante décadas como uma figura fraturante no sistema político.
A imagem de mártir levou ao surgimento de um culto popular, semelhante ao que existe em torno da figura de Sousa Martins, que fez de Sidónio Pais um santo, com honras de promessas e ex-votos, que ainda hoje se mantém, sendo comum a deposição de flores e outros elementos votivos junto ao seu túmulo.