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  Confira mais um capítulo da História de Portugal

Por: Nelson de Paula.

António Sebastião Ribeiro de Spínola - 16/04/2017

António de Spínola deu à missiva uma resposta verbal. Em dois pontos basilares: ele “não estava nem nunca estivera à frente do Movimento” ele poderia, ele e os seus amigos, não obstante “tentar intervir no sentido de se controlar a situação” – isto se o Governo quisesse usar de “sensatez”, procurando uma solução conciliatória e lhe propusesse um “interlocutor devidamente mandatado”.

Às quinze e trinta horas, no Grêmio Literário, o Dr. Pedro Pinto teve conhecimento que havia sido pronunciado pelas forças que sitiavam o Quartel do Carmo o “ultimatum” definitivo: dez minutos para a rendição ou a mira das armas de fogo, até aí disparadas, em aviso, para o ar, baixariam sobre a unidade. Tentou então um golpe de sorte. Um telefonema, para o próprio Quartel.

Com a ajuda preciosa do Dr. Salles Lane, diretor do Grêmio Literário, o Dr. Pedro Pinto tentou. Foi uma inspiração de um milagre. Do Carmo respondiam, a comunicação não fora cortada. O Dr. Pedro Pinto fala com o Dr. Rui Patrício, este na qualidade de porta-voz de Marcello Caetano, e averigua que sim, que o Governo está disposto a negociar. “É preciso – diz o ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros – fazer todos os possíveis por resolver a situação e o Governo está aberto a quaisquer propostas nesse sentido”.

Decorria este telefonema, chega o Dr. Nuno Távora ao Quartel do Carmo, acompanhado pelo Dr. Feitor Pinto, diretor dos Serviços de Informação da S.E.I.T. É que, regressado à Secretaria de Estado da Informação, Nuno Távora, tendo sido inteirado de que o Dr. Pedro Pinto se encontrava no Grêmio Literário e não conseguindo, devido às múltiplas barreiras de militares, alcançar a Rua Ivens, decidira tomar a iniciativa de, ele próprio, transmitir aos governantes sitiados no Carmo a mensagem de António de Spínola.

O acesso ao interior do Quartel foi-lhes facilitado, a Nuno Távora e Feitor Pinto, pelos dirigentes dos insurrectos. Um destes, tenente Assunção, acompanha-os, anunciando aos governamentais a natureza diplomática da diligência. Com um aviso solene: “Vão aí dois delegados do general Spínola. Se alguma coisa lhes acontecer, não fica desse quartel pedra sobre pedra”.

Os dois emissários são então postos em contato pessoal com Marcello Caetano. Encontrava-se este a descansar sentado numa poltrona num quarto com duas camas e de cujas janelas as cortinas se apresentavam completamente corridas. Sereno, ouviu a mensagem de Spínola. Ouviu também as sugestões, pela boca de Rui Patrício, do Dr. Pedro Pinto, ainda em linha. E declarou a sua rendição.

À conversa assistiram, além dos citados, o Dr. Moreira Baptista e o Comandante Coutinho Lanhoso, ajudante-de-campo de Marcello Caetano. Dela resultou uma mensagem, rascunhada por Rui Patrício e passada a limpo por Coutino Lanhoso, mensagem dirigida a António de Spínola.

Para Feitor Pinto e Nuno Távora, o contra-relógio recomeçou. Os dez minutos escoavam-se. Pondo porém ao par das intenções manifestadas pelos governantes os dirigentes dos insurrectos no local, obtêm destes a cedência de um jipe, no qual partem para novo encontro com o General Spínola.