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  Confira mais um capítulo da História de Portugal

Por: Nelson de Paula.

Francisco da Costa Gomes - 28/05/2017

Mário Soares e Salgado Zenha consideravam, que os Estados Unidos deveriam continuar a pressionar o Presidente para que este efetivasse as mudanças consideradas necessárias. O embaixador dos Estados Unidos em Portugal Frank Carlucci informou-os de que o tinha feito nessa mesma manhã. Intrigado com o comportamento de Costa Gomes, o Departamento de Estado perguntava para Lisboa se eram credíveis os relatos segundo os quais o Presidente da República poderia estar a ser chantageado pelo PCP.

Que informações teriam os comunistas acerca de Costa Gomes? De acordo com a embaixada norte-americana em Lisboa, existiam dois "relatos" de alguma importância e credibilidade acerca das atividades de Costa Gomes enquanto comandante militar em África. O primeiro dizia respeito ao modo como teria elogiado a atuação dos "Flechas" e solicitado a criação de mais unidades desta força da PIDE/DGS em Angola.

O segundo referia que, enquanto esteve em Angola, teria descoberto que um navio holandês se preparava para partir da Europa para Angola transportando armas para o MPLA e ordenado a sua destruição à bomba. Nenhum destes relatos, porém, constituía motivo suficiente para que os comunistas pudessem exercer qualquer tipo de "chantagem" sobre Costa Gomes.

Assim, segundo a embaixada, "ao avaliar a enigmática personalidade política de Costa Gomes é necessário ter em conta que ele e Vasco Gonçalves têm uma longa relação de amizade pessoal, que o filho único do Presidente viveu com a família Gonçalves enquanto Costa Gomes esteve ao serviço em África e que o filho do Presidente e a filha de Gonçalves, segundo se diz, são namorados e, alegadamente, ambos membros do Partido Comunista Português".

O recurso ao argumento da "chantagem" enquanto categoria explicativa, salientava ainda Frank Carlucci, era muito comum em Portugal, sobretudo quando o comportamento de uma personagem se tornava difícil de entender ou quando as suas ações prejudicavam diretamente os interesses de um determinado grupo. Muitas vezes era o grupo que se considerava prejudicado que recorria ao argumento da chantagem.

Não obstante, era também do conhecimento geral que, após o 25 de Abril, o Partido Comunista Português se tinha conseguido apoderar de ficheiros da antiga PIDE/DGS, podendo existir, por conseguinte, "terreno amplo" para o exercício de chantagens pessoais.

Quanto às questões familiares e ao papel do filho do general Costa Gomes, a embaixada norte-americana voltaria, alguns meses mais tarde, ao assunto. Grande parte da capacidade de influência do Partido Comunista Português sobre o Presidente da República era proveniente do seu próprio filho, membro da "juventude comunista" que, inclusivamente, teria já ameaçado com "greve de fome", caso o pai não assumisse uma determinada posição favorável ao PCP.

A história é confirmada por militantes comunistas da altura que afirmam ter recrutado o filho do general Costa Gomes e, em determinados "momentos críticos", lhe ter transmitido instruções do Partido Comunista Português. Carlucci diz que ajuda chegaria mais rapidamente com outro Governo.