Por: Nelson de Paula.
António de Oliveira Salazar - 06/11/2016
O seu antimonarquismo começou a revelar-se dentro do Centro Católico Português, quando, no seu congresso de 1922, vinga a tese de Salazar de que o Centro deveria aceitar o regime republicano "sem pensamento reservado". Monárquicos católicos, com destaque, entre outros, para Fernando de Sousa, Alberto Pinheiro Torres e Diogo Pacheco de Amorim, abandonaram então o Centro Católico.
Ao chegar ao poder, no discurso que proferiu em 9 de junho de 1928, a solução do "problema político" do regime (monarquia ou república) surgia ainda em último lugar nas suas prioridades. Uma resolução tomada dois anos depois, porém, revelava a grande distância que ia entre as suas palavras e os seus atos.
Após a falhada Monarquia do Norte, em 1919, centenas de oficiais do exército foram afastados do serviço ou demitidos, quando dominava a cena política o Partido Democrático de Afonso Costa. Mais tarde, o governo de António Maria da Silva, para amainar os ânimos já muito exaltados contra a Primeira República, apresentou no parlamento um projeto visando a reintegração no serviço ativo daqueles oficiais.
O golpe militar de 28 de maio de1926 interrompeu o processo, mas, em 1930, o tenente-coronel Adriano Strecht de Vasconcelos apresentou ao presidente Óscar Carmona um documento intitulado "A Situação Jurídica dos militares afastados do serviço do Exército em 1919", pedindo justiça. Oliveira Salazar reagiu impedindo a reintegração daqueles oficiais monárquicos.
Na sequência da morte de dom Manuel II, em 2 de julho de 1932, a ilusão do "monarquismo" de Salazar caiu por completo quando o seu governo se apropriou dos bens da Casa de Bragança instituindo a Fundação da Casa de Bragança. A derradeira prova de que Salazar não queria a monarquia deu-se em 1951 no congresso da União Nacional, em Coimbra.
Em discurso encomendado por Salazar, Marcello Caetano vem a travar naquele congresso as teses da restauração da monarquia.Temos ainda a consciência desse facto, que Salazar não apoiava a monarquia, mas que se servia dos monárquicos que o admiravam e perseguia quem não o fazia na história do Integralismo Lusitano.
Em 1911 tinha sido publicada a Lei da Separação do Estado das Igrejas, de Afonso Costa. Um documento que o Papa Pio X declarara nulo “como uma lei que despreza a Deus” e que “enxovalha e insulta a majestade do Pontificado Romano, o episcopado, o clero e o povo Lusitano e até os católicos todos do universo”. Se a religião católica tinha deixado de ser a do Estado, não tinha, no entanto, deixado de ser a de parte do povo, como mostraram fenómenos de religiosidade popular como Fátima, em 1917.
Em 1940, depois de aturadas negociações, Salazar assina a Concordata entre a Santa Sé e Portugal, que tinha começado logo após o fim da I República. A questão da indenização da Igreja Católica pela nacionalização dos seus bens durante a Primeira República foi reivindicada pela Santa Sé, mas Salazar rejeita, porém tal hipótese e adota um regime de separação de poderes entre o Estado e a Igreja.