Por: Nelson de Paula.
Francisco Craveiro Lopes - 05/02/2017
Nenhuma figura se apresentava como consensual, com as diversas correntes do regime com dificuldade em encontrar um nome que fosse passível de aceitação por todos. Salazar acaba por seguir a sugestão de Luís Deslandes, um militar próximo de Santos Costa, ministro da Guerra, e convida Craveiro Lopes a assumir o cargo de Presidente da República.
Na reunião da Comissão Central da União Nacional de 1 de junho de 1951, o nome do general Craveiro Lopes acaba por ser definitivamente validado como candidato pelo Estado Novo à Chefia do Estado. A oposição democrática, por seu lado, decide avançar, a 3 de junho, com o nome do almirante Manuel Carlos Quintão Meireles.
Nesse mesmo dia, o Partido Comunista Português apresenta o Professor Ruy Luís Gomes como candidato. Face ao refluxo da oposição, crescentemente dividida desde a candidatura do general Norton de Matos às eleições presidenciais de 1949, o regime acaba por sair beneficiado.
Ruy Luís Gomes é afastado pelo Conselho de Estado e Quintão Meireles retira a sua candidatura devido à ausência de condições de isenção e seriedade do ato eleitoral. A campanha de Craveiro Lopes termina com dois grandes comícios no Porto e em Lisboa. O ato eleitoral realiza-se no dia 22 de julho de 1951, sendo Craveiro Lopes eleito, sem oposição, com cerca de 80% dos votos.
Craveiro Lopes é investido no cargo de Presidente da República em cerimônia realizada na Assembleia Nacional, no dia 9 de agosto de 1951. O seu mandato inicia-se num clima de alguma instabilidade dentro do regime. A morte de Carmona abrira um campo de batalha mais aberto entre os diversos setores do regime, com especial destaque para a luta entre as alas conservadora e moderada do regime.
Se a eleição de Craveiro Lopes parecia ser uma solução de compromisso, até pelo seu descomprometimento, a batalha principal entre os dois campos dá-se no III Congresso da União Nacional, em Coimbra, a 22 de novembro. Nessa ocasião, a ala mais conservadora coloca novamente a questão do regime, possibilidade que é simultaneamente negada, no próprio congresso por Marcelo Caetano (representando a ala reformista), e pelo Presidente da República, numa cerimónia pública no Porto.
Este momento marca o início de uma aproximação entre Marcelo Caetano e o Presidente da República, que se manterá durante todo o seu mandato. Craveiro Lopes, afastando-se progressivamente do ministro da Defesa, Santos Costa, torna-se o ponto de referência do reformismo no interior das Forças Armadas.
Referências impulsionadas pela adesão de Portugal à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), com a formação de novos quadros, que pelo seu contato com a realidade exterior, preconizam uma maior independência da instituição militar relativamente ao poder político. Cria-se assim um eixo "marcelista-craveirista" no interior da ala reformista do regime, com o Presidente da República a representar a sua componente militar.