Por: Nelson de Paula.
Francisco Craveiro Lopes - 19/02/2017
Apesar de profundamente desiludido com a sua candidatura falhada, Craveiro Lopes, enquanto Presidente da República, mantém a lealdade ao chefe do Governo, dando-lhe conta das movimentações militares destinadas a adiar as eleições presidenciais, a reconsiderar a opção do regime para as mesmas e a exigir a demissão do ministro da Defesa, Santos Costa.
É com este apoio que Salazar acaba por jogar na remodelação ministerial que se segue à tomada de posse de Américo Tomás, com as saídas do governo de Santos Costa e do ministro da Presidência, Marcelo Caetano, e com a nomeação para a pasta da Defesa de Botelho Moniz, militar capaz de restabelecer o equilíbrio na instituição militar.
O seu ressentimento em relação a Salazar e a certas figuras do regime será, no entanto, até ao fim da sua vida, profundo e irremediável. Após a eleição de Américo Tomás para a Presidência, em 1958, Craveiro Lopes é em novembro desse ano, promovido a marechal. Apesar da promoção, torna-se progressivamente crítico do regime.
Logo em 1959, alguns militares que lhe são próximos, participam ativamente no "golpe da Sé", movimento militar revolucionário, promovido por oficiais ligados a Humberto Delgado, desmantelado pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado. Esta mesma polícia não deixará de o manter sob apertada vigilância, controlando todos os seus movimentos até ao final da sua vida.
Craveiro Lopes é um dos presentes no plenário dos comandantes militares, na Cova da Moura, convocado por Botelho Moniz. O plano delineado prévia que Craveiro voltasse a ocupar a chefia do Estado e que Marcelo Caetano pudesse vir a tornar-se chefe do Governo. Considerando a situação irremediavelmente perdida e perante a desistência dos outros implicados na conspiração, o marechal é um dos poucos que defende a desobediência e o confronto militar com as forças fiéis ao regime.
Pouco tempo depois, desloca-se ao ultramar, a fim de visitar os seus filhos, que aí se encontravam, Nuno em Moçambique e João em Angola. Em 1963 sofre um primeiro ataque cardíaco, logo no início do ano, voltando seguidamente a Angola, onde fica durante cerca de três meses, no sentido de consolidar a sua recuperação.
As suas últimas intervenções com peso político dão-se em 1963: a entrevista que concede, ao Diário de Lisboa, onde leva as suas críticas mais longe, defendendo a livre discussão dos principais problemas do país, "a evolução gradual do regime", a abolição da censura" e a "liberdade de expressão e discussão", apelando ainda à "coragem" e ao "bom senso", no âmbito da política ultramarina.
Craveiro Lopes vem a falecer, em 2 de setembro de 1964, vítima de novo ataque cardíaco, em sua casa, na Avenida de Roma, em Lisboa. Tendo sido organizado um funeral de Estado, como era devido, não foi decretado luto nacional e ao contrário do habitual, o ministério da Defesa não se disponibilizou para suportar os custos do funeral.