Por: Nelson de Paula.
António Sebastião Ribeiro de Spínola - 09/04/2017
Ao telefone e ao desembaraço de dois homens fica a dever-se o desfecho pacífico dos momentos de mais dramática tensão vividos durante o golpe de Estado 1974: aqueles em que as forças militares revoltosas, bocas de fogo assentadas contra o Quartel do Carmo, aguardavam dos sitiados uma rendição para a qual lhes haviam concedido dez minutos - dez breves minutos que se iam escoando, um atrás do outro, sem a rendição vir.
Fica esse desfecho a dever-se ao telefone ou, melhor, a três telefones, os que ligaram num triângulo de exortações e nervos outros tantos locais: a sala do antigo convento onde três membros do governo deposto, entre eles o seu chefe, aguardavam o bombardeamento pelos sublevados, o gabinete do Grémio Literário, onde o então secretário de Estado da Informação, Dr. Pedro Pinto, lutava por impedi-lo, e a residência do General António de Spínola, o único homem de quem podia partir a ação que evitasse o massacre.
E fica a dever-se ao desembaraço de dois homens, que são os Drs. Nuno Távora e Pedro Feytor Pinto, porque foi do contra-relógio que efetuaram numa Lisboa em polvorosa que viveram as negociações das forças em confronto. Amigo pessoal de António de Spínola, a quem a afinidade de pontos de vista sobre a conjuntura portuguesa não tardara, mal regressado a Lisboa, a unir, o Dr. Pedro Pinto foi dele que se lembrou quando, à notícia das primeiras ações do Movimento das Forças Armadas, temeu, para o que decorria, o desfecho tradicional de golpes de Estado: o mar de sangue, a retaliação sobre os depostos. E escreveu para ele uma carta.
Nesse documento, o Dr. Pedro Pinto sugeria a hipótese de um acordo entre o Movimento das Forças Armadas e o Governo, na linha das tentativas que, a título pessoal, apresentara a Spínola. Evocava-lhe o amor comum a Portugal; afirmava-lhe a confiança que nele punha para a salvação deste, ameaçado da desintegração do poder.
A carta foi entregue pelo Dr. Pedro Pinto ao seu jovem secretário, Dr. Nuno Távora, a quem incumbiu de a fazer chegar ao General. Estava-se no fim da manhã e os êxitos do Movimento das Forças Armadas sucediam-se.
Quando o Dr. Nuno Távora chegou à residência do atual presidente da Junta de Salvação sabia-se ter já principiado o cerco ao Quartel do Carmo. E sabia-se estar o presidente Marcello Caetano no seu interior.