Por: Nelson de Paula.
António Sebastião Ribeiro de Spínola - 23/04/2017
Estamos falando do dia 25 de Abril de 1974. Informado também já telefonicamente, pelo Dr. Pedro Pinto, da disposição de Marcello Caetano de se render, o General Spínola fardava-se no momento em que os mensageiros lhe alcançaram a residência. Preparava-se para se deslocar em pessoa ao Carmo.
A mensagem provoca, porém a sua reserva. “Esta não é a letra de Marcello Caetano”, diz aos portadores. O General, para proceder à intervenção prometida, insiste na exigência que já formulara de um interlocutor devidamente mandatado. Os Drs. Távora e Feitor Pinto, do mesmo modo, insistem na autenticidade do escrito.
Torna-se novamente altura de o Dr. Pedro Pinto usar o telefone. Ao corrente das posições de ambas as partes, sugere com veemência a Marcello Caetano que entre em rápido contato telefónico com o General. Este assim faz e a situação resolve-se.
António de Spínola, reconhecendo a voz do antigo presidente do Conselho, decide atuar, pondo mais uma única condição: a de ser iniludivelmente mandatado pelos dirigentes do Movimento das Forças Armadas com os quais só aceita entretanto contatar a nível superior ao de tenente-coronel. É o que diz ao Dr. Pedro Pinto, é o que diz ao Dr. Feitor Pinto e Nuno Távora.
Fazem então estes, nova deslocação até ao Carmo. Aí, porém, só deparam com oficiais de patente inferior à descrita. O tempo passa. Em frente do Quartel do Carmo engrossa o povo que pretende assistir à rendição dos que se encontram no interior e os militares vêem-se em dificuldade para o conter. Sobe a tensão, aumenta o nervosismo.
O Movimento das Forças Armadas continua, porém a dar provas de, tal como o afirmavam os seus comunicados, pretender que a tomada do poder não fique manchada de sangue. Feitor Pinto e Nuno Távora partem num Datsun, verde azeitona, conduzido pelo capitão Brito e Cunha, em direção ao Quartel do Regimento de Infantaria da Pontinha, onde se instalou o Comando do Movimento. Os oficiais superiores, entretanto, aceitam as propostas que lhes são apresentadas e comunicam telefonicamente com o General Spínola.
Este informa-os de que seguirá diretamente para o Quartel do Carmo, onde chega pouco antes dos Drs. Feitor Pinto e Nuno Távora. Processa-se então a negociação entre Spínola e Marcello Caetano, já sem a presença do almirante Tenreiro, que, entretanto, desaparecera misteriosamente. A conversa decorre com grande dignidade. Marcello Caetano não discute nem implora e é ele quem anima o ex-ministro do Interior, seu companheiro de exílio.
O importante papel que desempenhou é oficialmente reconhecido a 5 de fevereiro de 1987, pelo então Presidente da República Mário Soares, ao empossá-lo como chanceler das Antigas Ordens Militares, e ao entregar-lhe as insígnias da Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, pelos "feitos de heroísmo militar e cívico e por ter sido símbolo da Revolução de Abril e o primeiro Presidente da República após a ditadura".