Por: Nelson de Paula.
Francisco da Costa Gomes - 21/05/2017
Costa Gomes considerava fundamental, porém, que essa evolução fosse assegurada pela presença devidamente "institucionalizada" do MFA na vida política portuguesa. Ao longo deste período e à medida que as crises se sucediam, Costa Gomes teve como preocupação essencial, em praticamente todas as suas intervenções públicas, tornar clara a sua defesa de um regime pluripartidário para Portugal e a sua oposição a tentativas de hegemonização da vida política portuguesa por um único partido ou setor, afastando-se assim do "puro marxismo" que repudiava.
Sempre que se referiu à construção de uma sociedade "socialista" em Portugal - como era típico do vocabulário político da época - Costa Gomes fez questão de acrescentar qualificativos como "democrática", "pluripartidária" ou "pluralista". No entanto, o posicionamento do Presidente da República ao longo destes meses decisivos para o futuro do país só será compreendido se entendermos que Costa Gomes pautou sempre as suas declarações e a sua atuação por uma conjugação pragmática.
Por um lado as suas próprias ideias e desejos para o futuro do país e, por outro lado, uma visão "realista", dotada de sensibilidade aguda aos equilíbrios momentâneos do poder político e militar. Com uma "rara capacidade de discernir em qualquer momento qual era a relação de forças", Costa Gomes avaliava permanentemente os equilíbrios existentes e raramente se opunha de forma direta à "força dominante" num determinado período, procurando sempre evitar a escalada no confronto e, em última análise, a guerra civil.
Por outras palavras, a sua avaliação constante dos equilíbrios políticos e militares, o seu pragmatismo político, a sua natural tendência para "conciliador", levaram-no, muitas vezes, a fazer cedências e a pactuar com quem defendia um futuro diferente do imaginado por si para a sociedade portuguesa.
Essa condescendência verificou-se umas vezes apenas ao nível da retórica, outras vezes ao nível das suas atitudes políticas concretas. Nos meses de Verão e Outono de 1975, até ao momento em que, na sua percepção, tanto do ponto de vista militar como civil, o setor "gonçalvista" conotado com o PCP manteve a superioridade ou, pelo menos, a força suficiente para pôr em perigo a paz civil, Costa Gomes evitou o confronto, fez concessões, avançou passo a passo, por vezes deparando com grande exasperação e alguma incompreensão das forças "moderadas", também tanto no plano militar como civil.
Na noite de 9 de Agosto de 1975, num jantar privado com Frank Carlucci, embaixador dos Estados Unidos em Portugal durante a revolução, os dirigentes socialistas Mário Soares e Salgado Zenha afirmaram ter "sérias dúvidas" acerca de Costa Gomes, apesar de deixarem entender que ainda não o tinham posto "completamente de parte". É certo que o Presidente proferia "discursos moderados", mas tinha acabado por apoiar Vasco Gonçalves em vários momentos cruciais, pelo que Soares e Zenha acreditavam na possibilidade de Costa Gomes estar a ser "chantageado" pelo PCP.