Por: Nelson de Paula.
Francisco da Costa Gomes - 11/06/2017
Sobre o auxílio solicitado pelo governo português ao governo norte americano, o embaixador americano Frank Carlucci começou por dizer que estava particularmente "preocupado" com o fato de o auxílio norte-americano ao transporte dos refugiados angolanos poder ser interpretado como "um apoio a certas facções políticas na presente luta". Costa Gomes disse não entender onde o embaixador queria chegar.
Carlucci explicou: "O nosso auxílio tinha objetivos humanitários e nós não queríamos que pudesse ser interpretado como uma forma de apoio político a um governo cujos objetivos e orientação política eram a antítese daquilo que os Estados Unidos defendiam”. Daí que Carlucci solicitasse que a carta pedindo auxílio fosse oriunda da Presidência da República e não do Governo e ainda que Costa Gomes nomeasse um dos seus ajudantes diretos como interlocutor da embaixada.
No dia seguinte [23 de agosto], o major António Caldas, ajudante militar da Presidência da República encontrou-se com Carlucci para prosseguir as conversações sobre a ponte aérea. O major Caldas começou por dizer que Costa Gomes tinha ficado muito agradado com a resposta positiva dada por Carlucci.
Este afirmou que tinha pensado melhor sobre o assunto. Tal como ficara claro na conversa com o Presidente, Carlucci reafirmou que não estava disposto a trabalhar com o Governo de Vasco Gonçalves. Caldas respondeu que o Presidente concordara e que, por essa razão, nomeara Ferreira da Cunha e ele próprio como interlocutores da Presidência junto da embaixada.
Carlucci agradeceu os "esforços" da Presidência, mas argumentou: "Numa operação desta magnitude seria certamente mais fácil, se tivéssemos um governo com o qual pudéssemos trabalhar." O "auxílio americano" poderia tornar-se mais fácil, se o "mecanismo de resposta em Portugal envolvesse mais do que o gabinete do Presidente".
Carlucci relembrou a António Caldas que este tinha informado a embaixada de que o Presidente tencionava demitir o Governo no dia 25 de agosto, ou seja, dois dias depois. Apesar de os Estados Unidos tencionarem cumprir o que fora prometido, a verdade é que "a ajuda [norte-americana] certamente chegaria mais rapidamente, se [essa] mudança fosse operada no calendário previsto".