Por: Nelson de Paula.
Francisco da Costa Gomes - 18/06/2017
Com relação à ajuda prometida pelo governo americano para retirada de portugueses de Angola, "a ajuda certamente chegaria mais rapidamente, se a mudança fosse operada no calendário previsto", qual seja demitir o Governo no dia 25 de agosto. O major Caldas disse entender aquilo que Carlucci lhe pretendia transmitir e debruçou-se, em seguida, sobre os aspectos técnicos da ponte aérea.
Quando da sua saída, o embaixador norte-americano fez questão de frisar novamente: "Não estamos a voltar atrás com a nossa promessa, mas a ponte aérea seria muito mais fácil, se tivéssemos um novo governo." O "povo americano" iria entender o envolvimento do seu Governo na ponte aérea como auxílio a um "governo comunista", a não ser que fossem feitas "certas mudanças". O major Caldas prometeu transmitir a mensagem ao Presidente Costa Gomes.
As instruções da Administração norte-americana apenas chegariam a Lisboa no dia 2 de Setembro, ou seja, já depois de ter sido anunciada publicamente a demissão de Vasco Gonçalves do cargo de primeiro-ministro. O embaixador Frank Carlucci era autorizado a informar Costa Gomes que, em resposta ao pedido efetuado e "numa base puramente humanitária", os Estados Unidos iriam providenciar dois aviões por um "período indefinido" para auxiliar na evacuação dos cidadãos portugueses de Angola para Portugal.
Os voos poderiam iniciar-se dentro de três dias. No entanto, uma vez que tinha também sido aventada a possibilidade de Vasco Gonçalves vir a ser nomeado “Chefe do Estado Maior - General das Forças Armadas”, Carlucci deveria aproveitar a ocasião para avisar o Presidente português de que o "esforço de evacuação" só seria realmente "significativo em termos humanitários", caso existisse em Portugal uma "atmosfera de tranquilidade, cooperação e democracia".
Ora, a manutenção de Vasco Gonçalves numa posição-chave da estrutura político-militar portuguesa apenas contribuiria para prolongar a situação que estivera na origem da crise portuguesa das últimas semanas". Por fim, Carlucci era avisado pelo Departamento de Estado que, "dependendo dos acontecimentos", os Estados Unidos poderiam "expandir ou suspender a ponte aérea a qualquer momento".
O Governo americano levaria seriamente em consideração a opinião dos moderados quanto a este assunto. Nesse mesmo dia, Carlucci efetuou a diligência junto de Costa Gomes, transmitindo-lhe as indicações recebidas de Washington. O Presidente manifestou a sua satisfação. Aos seus colaboradores confessaria, porém, que tinha ficado "desapontado" com a "magnitude" da resposta americana.