Por: Nelson de Paula.
Mário Alberto Nobre Lopes Soares - 03/09/2017
Como advogado defensor de presos políticos, participou em numerosos julgamentos, realizados no Tribunal Plenário e no Tribunal Militar Especial. Representou, nomeadamente, Álvaro Cunhal e Octávio Pato, quando acusados de crimes políticos, e a família de Humberto Delgado na investigação do seu alegado assassinato pela PIDE, o que proporcionou a Soares uma certa visibilidade internacional. Juntamente com Adelino da Palma Carlos, defendeu também a causa dinástica de D. Maria Pia de Saxe-Coburgo e Bragança.
Mário Soares despertou para a política no seio familiar, de tradição republicana e oposicionista. O pai, João Lopes Soares, era republicano convicto e ocupou vários cargos depois da implantação da República — foi governador civil da Guarda, Braga e Santarém, e deputado à Assembleia da República durante dez anos, entre 1916 e 1926, ano em que triunfa o golpe militar que dá origem à ditadura. Antes, em 1919, tinha sido brevemente Ministro das Colônias. Em agosto de 1930, tinha Soares cinco anos, o pai foi deportado para os Açores.
A atividade política de Mário Soares levá-lo-ia por 12 vezes aos calabouços da prisão. Estava preso quando casou por procuração, embora com registro na 3.ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa, a 22 de Fevereiro de 1949, com a atriz Maria Barroso.
Por influência de Álvaro Cunhal (que chegou a ser regente de estudos no Colégio Moderno), Soares aderiu em 1943 ao Movimento de Unidade Nacional Antifascista, estrutura ligada ao Partido Comunista Português, e integrou a partir de 1946 a Comissão Central do MUD - Movimento de Unidade Democrática, sob a presidência de Mário de Azevedo Gomes, tendo sido nesse âmbito co-fundador do MUD Juvenil e membro da sua primeira Comissão Central.
Em 1949 foi secretário da Comissão Central da candidatura do general Norton de Matos à Presidência da República. Obrigado pela direção do PCP a confessar ao velho general (oposicionista ao Estado Novo mas anticomunista), que estava a colaborar na Comissão Central da candidatura em representação dos comunistas, Norton de Matos quis afastá-lo totalmente de qualquer atividade na campanha.
Por causa da interferência de Mário de Azevedo Gomes, acabou por aceder a mantê-lo na estrutura, mas sem responsabilidades de fato. Em princípios dos anos 1950 Soares acaba por romper com o MUD e em definitivo com o PCP, por não se rever nem na linguagem, nem na metodologia. Mais tarde dirá que o PC o tentara obrigar a passar à clandestinidade e que “ficara imunizado”. A versão oficial dos comunistas é que Soares foi expulso por “ter abdicado da luta”.