Por: Nelson de Paula.
Castelos de Portugal - "Bragança" - 18/02/2018
Possivelmente apenas após essa data que se procedeu à reconstrução e adaptação das muralhas do castelo à artilharia, cortando algumas torres medievais, envolvendo o tecido urbano por uma nova cintura de muralhas e construindo-se um novo forte, sob a invocação de São João de Deus. Neste período, o perímetro defensivo partia do exterior sul do castelo, contornava toda a cidade e ligava-se novamente às muralhas do castelo, nas proximidades da porta da vila.
A obra exigiu a demolição de algumas casas, da capela de São Sebastião, o corte de cercas e a demolição dos dormitórios do mosteiro de São Bento e do de Santa Clara. À época, o estado de sua defesa foi assim descrito: "A praça de Bragança dista da raia duas léguas e meia, o que dela foi vila está situada em uma eminência circundada de muralha antiga, em meio tem um castelo também cerrado de per si de muralha da mesma sorte.
Desta vila se continua a mais povoação da cidade, baixando pela eminência, e torna a subir até outra, que fica a tiro de mosquete. Continuam-se as casas por junto ao rio Fervença e se alongam só a distância de três ruas, por uma e outra parte as vem fechando parede de grossura de três palmos, pouco mais ou menos. A que olha ao rio tem alguns redentes e parte dela de pedra e cal; a que fica para a parte da campanha é de pedra e barro, tem a modo de baluartes e alguns travezes, tem estacada e pequeno fosso a maior parte desta obra.
Esta povoação é tão condenada a padrastos, que segundo as notícias variaram todos os engenheiros em a forma de fortificá-la, e nenhum fez planta conveniente. Deve cerrar-se de per si a fortificação da vila que está situada naquela eminência, e pode servir-lhe a muralha com que se acha, menos a que fica para as casas da cidade, que contra elas se há-de fortificar com defesa ao moderno de dois meios baluartes a modo de tenalha, e uma meia lua ao lado direito dela, e se há-de ocupar em uma obra a eminência que para a outra parte olha a muralha da vila a tiro de mosquete, porque dali a não batam nem se caminhe com aproxes.
Fortificada de per si desta sorte a vila, se deve fazer um forte na eminência que frente a ela fica, junto à qual acaba a povoação da cidade, que ficando em meio destas duas forças tiro de mosquete de uma a outra a não entrará o inimigo, ou ao menos se não pode deter nas casas, ofendido da artilharia e mosquetaria, e abrindo-se um fosso pela parte da campanha ao largo, mudando a ele a mesma estacada e parede de pedra que está feita junto às casas, e se o inimigo quiser vir a elas receberá na detença da entrada considerável perda da artilharia e mosquetaria, das duas forças e meios fossos há-de ir acabar este.
Pelo outro lado das casas ficam defendidas do rio Fervença e aspereza da subida dele. É esta fortificação de maior segurança que qualquer outra que ali possa fazer-se: pede menos tempo, menos despesa e muito menos guarnição." Em 1690 a Câmara Municipal mandou colocar um relógio na torre do castelo: a obra foi arrematada a 17 de agosto pelo canteiro Martinho da Veiga, por 100.000 escudos.