Por: Nelson de Paula.
Castelos de Portugal - "Bragança" - 08/04/2018
Num tempo em que Bragança ainda não se chamava assim, já lá havia o castelo de Bemquerença onde vivia com o senhor desse castelo uma linda princesa órfã, sua sobrinha. A princesa apaixonou-se por um nobre e valente cavaleiro que também gostava muito dela. Este cavaleiro, porém, pertencia a uma família pobre e sabia que nessas condições não podia aspirar a casar com a princesa; por isso decidiu partir em busca de fortuna noutras paragens, prometendo-lhe só voltar quando se sentisse digno de a poder pedir em casamento ao seu tio.
Passaram-se anos com a princesa à espera do seu cavaleiro e recusando todas as propostas de casamento que lhe apareceram. Farto desta situação, o seu tio decidiu casá-la com um nobre, seu amigo e muito rico. Quando o tio apresentou à sobrinha o pretendente, ela imediatamente lhe disse que o seu coração pertencia a outro que havia de voltar um dia, o que deixou o tio e o seu amigo, furiosos.
Vendo a princesa recusar todas as propostas de casamento que lhe faziam nobres cavaleiros, seu tio, alarmado, mandou-a vir à sua presença. Ela sentiu que a hora das explicações tinha soado. Apressou-se, pois, a ir ter com o tio, poderoso senhor daquelas redondezas. Mal a viu aproximar-se, serena, delicada, de olhos baixos, o castelão não se perdeu em preâmbulos:
— Minha sobrinha, insisto junto de vós neste ponto que me parece bem importante: deveis casar! Com uma lentidão quase enervante a donzela foi erguendo os olhos até os fixar no rosto austero do tio. Depois, numa voz simples respondeu apenas: — Impossível! Ele deu um salto na cadeira e disse: — Impossível?... Como vos atreveis? Imperturbável, ela continuou: — É o mesmo que vos dizer uma vez mais... que o meu coração já não me pertence!
Mas, logo o seu tio pensou numa solução para a obrigar a casar e, para isso, durante a noite disfarçou-se de fantasma e entrou nos aposentos da sobrinha por uma das duas portas que estes tinham, assustando-a e dizendo-lhe que caso ela não casasse com o amigo do seu tio sofreria durante toda a vida enormes desgraças e toda a espécie de tormentos.
A princesa, naturalmente aterrorizada, estava quase a prometer ao fantasma que casaria com o amigo do tio quando a outra porta do quarto se abriu. Por essa porta, apesar de ser de noite, entrou um raio de sol que iluminou o falso fantasma e denunciou a mentira do tio da princesa. A partir de então a princesa nunca mais foi obrigada a quebrar a sua promessa e passou a viver recolhida na torre que ficou para sempre lembrada como a Torre da Princesa e aquelas duas portas ficaram a ser conhecidas pela Porta da Traição e a Porta do Sol.