Por: Nelson de Paula.
Castelos de Portugal - "Castelo Mendo" - 03/06/2018
A iniciativa régia de Sancho I poderia, assim, ser enquadrada no contexto da disputa fronteiriça vivida pelos dois reinos ao final do século XII, e que esteve na origem de outras obras de fortificação em ambos os lados da fronteira. No foral de Castelo Mendo de 1229, o Porto de São Miguel é designado como "Portum Mauriscum".
A sua importância viria a ser consagrada, já após a assinatura do Tratado de Alcanizes (em 1297), pela construção de uma ponte de pedra, num processo semelhante ao que ocorreu no vau de Rapoula do Côa, onde a construção da ponte de pedra determinou a decadência e abandono da vizinha povoação de Caria Atalaia, na margem leste do Côa.
Este documento reveste-se de interesse também porque estipula a primeira feira oficial no reino, a ser realizada por oito dias, três vezes por ano: na Páscoa, no São João e no São Miguel. Como curiosidade, numa parede do tribunal encontra-se uma gárgula a que, em Castelo Mendo, se chama “o Mendo”. A menda encontra-se em parede fronteira ao citado edifício do Tribunal e a Porta ostenta na sua base o símbolo heráldico de D. Sancho II.
Dinis I de Portugal (1279-1325) confirmou o foral à vila em 16 de dezembro de 1281, e dois dias após ali instituiu uma Feira Franca, a ser realizada na Devessa. A posse definitiva do território de Ribacôa, disputado ao reino de Leão e Castela por D. Dinis I, foi assegurada pelo Tratado de Alcanizes (em 12 de setembro de 1297).
A partir de então, o soberano procurou consolidar-lhe as fronteiras, fazendo reedificar os castelos de Alfaiates, de Almeida, de Castelo Bom, de Castelo Melhor, de Castelo Mendo, de Castelo Rodrigo, de Castelo de Pinhel, do Castelo do Sabugal e de Vilar Maior. Datam desse período a construção da segunda cintura muralhada, assim como da torre de menagem, conferindo à vila o seu aspeto atual.
Sob o reinado de Fernando I de Portugal (1367-1383) tiveram lugar eventuais reparações do castelo e o alargamento da segunda cintura muralhada. A partir de então a povoação terão começado a entrar em declínio de tal modo que, visando atrair povoadores, no início de seu reinado, João I de Portugal (1385-1433), institui um couto de foragidos na vila (em 1387).