Por: Nelson de Paula.
"Palácio Nacional da Pena (Sintra)" - 12/08/2018
A parede onde se abre a porta que antecede a pequena ponte levadiça, tem uma decoração inteiramente semelhante à da fachada da Casa dos Bicos, em Lisboa. Quase todo o Palácio assenta em enormes rochedos, e a mistura de estilos que ostenta (neogótico, neomanuelino, neo-islâmico, neo-renascentista, com outras sugestões artísticas como a indiana) é verdadeiramente intencional, na medida em que a mentalidade romântica do século XIX dedicava um fascínio invulgar ao exotismo.
Estruturalmente o Palácio da Pena divide-se em quatro áreas principais: A couraça e muralhas envolventes (que serviram para consolidar a implantação da construção), com duas portas, uma das quais provida de ponte levadiça. O corpo, restaurado na íntegra, do Convento antigo, ligeiramente em ângulo, no topo da colina, completamente ameado e com a Torre do Relógio.
O Pátio dos Arcos frente à capela, com a sua parede de arcos mouriscos. A zona palaciana propriamente dita com o seu baluarte cilíndrico de grande porte, com um interior decorado em estilo “cathédrale”, segundo preceitos em voga e motivando intervenções decorativas importantes ao nível do mobiliário e ornamentação em geral.
Durante a construção, apesar de se manter a estrutura básica, foram feitas alterações em quase todos os vãos, ao mesmo tempo que a pequena torre cilíndrica que se encostava à maior passou para a retaguarda do edifício. O arco do corpo, ladeado por duas torres, recebeu uma profusa decoração em relevo a imitar corais.
Sobre ela, uma janela, a "bow window", recebeu na sua base, também em relevo, uma figura de um ser híbrido, meio-peixe, meio-homem, saindo de uma concha com a cabeça coberta por cabelos que se transformam num tronco de videira cujos ramos são sustentados pela enigmática personagem, relembrando propositadamente o homem barbado da janela da sala do coro do Convento de Cristo em Tomar, transformado aqui num ser monstruoso de carácter quase demoníaco.
Este conjunto, conhecido por "pórtico do Tritão", foi projetado pelo próprio Dom Fernando, que o desenhou como um "Pórtico alegórico da criação do mundo", e parece condensar, em termos simbólicos, a "teoria dos quatro elementos". Reforçando esta relação com Tomar, a janela existente no lado oposto deste corpo copia com alguma liberdade o célebre vão manuelino da autoria de Diogo de Arruda, "achatando-a". Nicolau Pires foi a Tomar desenhá-la para o príncipe, que reformulou o conjunto.