Por: Nelson de Paula.
"Castelo da Guarda" - 28/07/2019
O Castelo da Guarda localiza-se na cidade, concelho e distrito de mesmo nome, em Portugal. Em posição dominante sobre a cidade mais alta do país, ergue-se a 1.056 metros do nível do mar. Apesar de muito descaracterizado pelas intervenções particularmente a partir do século XIX, os troços remanescentes de seus antigos muros ainda definem, em alguns trechos, os limites urbanos.
Acredita-se que a primitiva ocupação deste sítio, num dos flancos da serra da Estrela, remonte a um antigo castro. No século I, à época da ocupação romana, esta povoação, próxima a um entroncamento de estradas, desenvolveu-se, com o nome de Lancia oppidana. Acredita-se, ainda, que o atual topônimo Guarda, modificação do neolatino Garda, originou-se no germânico Warda, empregado pelos Visigodos.
Informações mais seguras apontam para a construção de uma linha fortificada cobrindo esta região na passagem para o século XIII, momento em que Sancho I de Portugal transferiu para aqui a diocese de Egitânia, dando novo alento à cidade. É a este soberano que se deve o primeiro foral da cidade (a Guarda nasceu já cidade por Foral de 27 de novembro de 1199) - nos mesmos moldes de Salamanca e de Numão -, e a quem se atribui o início do primeiro castelo, em posição dominante sobre a cidade, datando o chamado Torreão de 1187.
No reinado de seu sucessor, Afonso II de Portugal, foi iniciada a Torre de Menagem (1290) e o troço norte das muralhas, junto à Porta d'El Rei. Reformas posteriores, realizadas nos reinados de Dinis de Portugal, de Fernando I de Portugal e de João I de Portugal, reformularam-lhe a feição original, conferindo-lhe o desenho que hoje se pode reconstituir em linhas gerais, embora a investigação se depare com o problema de atribuição dos troços e torres sobreviventes a um destes três reinados.
De maneira geral considera-se que o de: Dom Dinis foi responsável pela chamada Torre dos Ferreiros, erguida com pedra proveniente da Igreja de Nossa Senhora da Consolação, assim como o troço este das muralhas e a chamada Porta da Erva; Dom Fernando é responsável por alguns trabalhos e pelo arrasamento do arrabalde leste; e Dom João I pela conclusão dos troços norte (junto ao Torreão) e sul (junto à Porta da Covilhã) das muralhas.
Foi na vila da Guarda que Dom Dinis planejou, entre 1295 e 1296, as negociações diplomáticas que culminaram no Tratado de Alcanizes e na incorporação das terras além do rio Côa ao território português. Posteriormente, no contexto da Crise de 1383-1385, tal era o apoio com que o partido de Castela contava entre a nobreza portuguesa que, no início de 1384, quando da primeira invasão castelhana, João I de Castela entrou praticamente sozinho em Portugal, antes mesmo de seu exército.
A caminho de Lisboa, tendo chegado à Guarda acompanhado apenas pela sua esposa e por um pequeno séquito de cerca de trinta pessoas, foi recebido processionalmente pelo bispo da diocese e pelo clero, acorrendo depois numerosos fidalgos ao paço episcopal onde se hospedou.
Segundo a tradição, na ocasião o alcaide do castelo, Álvaro Gil Cabral, trisavô de Pedro Álvares Cabral, levantou-se em armas, negando-se a entregá-lo. No início do século XV, o castelo conhece nova etapa construtiva, com a ereção da chamada Torre Nova, junto à Porta da Covilhã.