Por: Nelson de Paula.
"Castelo de Alcanede" - 25/08/2019
Por ser partidário de Castela, após a vitória de Aljubarrota, Vasco Pires de Camões veio a ser despojado dos seus senhorios, sendo certo que, no contexto da crise de sucessão de 1383-1385, o povo de Alcanede levantou-se a favor do Mestre de Avis. O novo alcaide, Álvaro Vasques, integrou as forças portuguesas que combateram em território de Castela, tendo perecido numa ação de reconhecimento, como voluntário, de um vau do rio Douro.
O castelo terá servido de prisão, conforme testemunha uma carta de perdão passada por Afonso V de Portugal (1438-1481) datada de 1446. Nos finais do século XV são, uma vez mais, empreendidas obras de manutenção no castelo, como parece decorrer do ato de confirmação de João II de Portugal (1481-1495) da anterior Carta de Dom Fernando relativa à isenção de trabalho nas obras da muralha de Santarém (1487).
O mesmo será também confirmado por Manuel I de Portugal (1495-1521), que outorgou simultaneamente a esta vila e à de Pernes o "Foral Novo" (22 de dezembro de 1514). Nesse período, este soberano custeou parte das obras no castelo e na igreja matriz da vila. Subsistem duas descrições do castelo, correspondentes às "Visitações da Ordem de Avis à Comenda de Alcanede", de 1516 e 1538, transcritas por Simão Froes de Lemos.
Através da visitação de 1538 é possível sabermos que o castelo foi arruinado pelo grande sismo de 28 de fevereiro de 1531 (que afetou toda a Estremadura portuguesa), situação em que se manteve até à sua reconstrução no século XX. Do século XVIII aos nossos dias. No primeiro quartil do século XVIII encontrava-se “muito arruinado e em grande parte demolido pelo tempo”.
No contexto da Guerra Peninsular (1808-1814), durante a 3.ª invasão francesa (1810-1811) as ruinas do castelo assumiram um inesperado valor estratégico para as tropas francesas que ocupavam a vila, como ponto de vigia dos seus postos avançados, nomeadamente nos Mosteiros, e das manobras das tropas luso britânicas, baseadas em Rio Maior. E de acordo com o relato coevo do prior de Alcanede, no início da invasão, terá sido montado no castelo um ardiloso, e inconsequente, estratagema para afastar os franceses.
Data de 1813 a primeira referência de carácter historicista conhecida sobre o castelo de Alcanede. Da autoria do viajante inglês Francis Hall, refere estar "esta parte de Portugal coberta de fortalezas feudais", incluindo a "pequena localidade de Alcanede". No início de século XIX as ruinas da torre do castelo foram utilizadas para a colocação de um marco para orientação dos viajantes "através dos pinhais".