Por: Nelson de Paula.
"Castelo de Paderne" - 03/11/2019
A casa Álife que é, até ao presente, na área escavada, a habitação islâmica mais representativa do Período Almóada. Localiza-se no cruzamento de duas ruas, a principal, correspondendo ao eixo central do castelo, e uma secundária que termina na muralha sudoeste. É um exemplo do modo como as habitações almóadas se estruturavam em volta de um pátio central, neste caso tem um pátio com uma planta retangular, que está pavimentado por lajes que substituíram os ladrilhos originais.
Entorno do pátio central, dispõem-se oito salas. O compartimento do lado norte que tem um pequeno anexo é interpretado como uma sala com uma alcova lateral, as salas mais pequenas correspondem a quartos de difícil interpretação devido às sucessivas remodelações, pressupõe-se que alguns serviram para armazenamento de alimentos, em particular a que registou a presença de um silo que foi entulhado, posteriormente, entre finais da Idade Média e inícios da Época Moderna.
A porta de entrada, localizada na rua secundária, é a única atualmente visível, não obedecendo ao paradigma de abrir diretamente para um corredor lateral em cotovelo, corresponde de facto a um vão refeito, posteriormente na fase cristã, o que justifica o seu acesso direto a um quarto.
No espaço interior, encontra-se a ruína romântica de uma construção de pedra rudemente aparelhada, ligada com uma argamassa muito friável, com rebocos sobrepostos. É a ermida de Nª Sra. da Assunção, constituída pela capela-mor e uma única nave.
A onomástica da ermida alude à elevação do corpo e da alma da mãe de Jesus, à glória celestial após a morte. Possivelmente em 1506, ano em que a Igreja Matriz foi deslocalizada do interior do castelo, recentemente despovoado, para a atual implantação, na recém-refundada Paderne, que a Ermida de Nª Sra. da Assunção ocupou o espaço que fora primitivamente o da Igreja de Santa Maria do Castelo.
Apesar da ausência de evidências arqueológicas que o comprovem, o fato do orago da primitiva Matriz ter sido Santa Maria e atendendo a que as mesquitas eram quase sempre sacralizadas em nome da Virgem, leva-nos a supor que a inicial sede paroquial de Paderne ocupou a área do templo islâmico. Da Matriz primitiva, Igreja de Nª Sra. do Castelo, o primeiro registro escrito que temos, data de 1263, do reinado de D. Afonso III, associado à organização dos estatutos da Sé de Silves.
Mais tarde, com a doação da igreja e do seu padroado à ordem de Avis, pelo monarca D. Dinis, em 1305, é possível que o edifício inicial tenha sofrido obras de remodelação, ou mesmo sido erigida uma nova igreja, para marcar a presença da Ordem, sobre a nova possessão que recebera.
Observando a Ruína da Ermida de Nª Sra. da Assunção ressalta a fachada principal, de 5,40 m de comprimento, ornamentada com um óculo de massa, bem como as paredes laterais da nave com 11 m de comprimento. A capela-mor exibe ainda as bases do arco triunfal, e, nas paredes laterais, os arranques da cúpula que a cobriu, bem como um troço de alvenaria do altar-mor, que teria 3,60 m de comprimento por 3,80 m de largura.