Por: Nelson de Paula.
"Castelo de Vide" - 29/12/2019
Todo o castelo de Castelo de Vide caracteriza-se pela qualidade do material e das técnicas construtivas. A utilização de alvenarias de pedra e cal aliam-se à pedra, em que as segundas são reservadas para sítios específicos como os cunhais, a base da torre de menagem e certas molduras de portas. Foram utilizados o granito e o grauvaque, ambos materiais abundantes na região. As fundações eram diretas sobre o afloramento rochoso que foi cortado para esse efeito.
A cerca urbana apresenta a forma de um polígono irregular, de planta pentagonal. A sua edificação terá sido condicionada pelo relevo e também por existências anteriores ao séc. XIV. Os muros retilíneos proporcionam uma envolvente angular ao conjunto. As torres que compõem este conjunto ocorrem nos cantos do recinto, em pouco número e pouco salientes relativamente à muralha, e apresentam uma forma cilíndrica.
São torres discretas, maciças e poderiam estar munidas de ameias, tal como a muralha. Não há torres ou dispositivos para tiro vertical nas entradas da vila. Escadas de acesso à muralha estavam estrategicamente articuladas com as ruas e não há interrupção do adarve possibilitando uma rápida movimentação pelo alto dos muros. A desaparecida Torre do Relógio estava associada às defesas externas: barbacã e couraças.
A barbacã do castelo de Castelo de Vide foi absorvida ou perdida em grande parte pelas obras abaluartadas do séc. XVII, restando o troço sul-nascente. Estaria já instalada e operacional em 1327 tal como indicado na lápide que encima a porta sudeste e também contemporânea da muralha (visível na mesma tipologia de aparelho e desenho de portais).
Abrangia sectores inteiros do contorno defensivo, os mais vulneráveis ou os de maior estatuto e que deveriam corresponder a metade do comprimento fortificado total (que tem 500 m). A barbacã ajudava a interligar a imagem da vila e do castelo estendendo-se em redor de ambos sem diferença ou descontinuidade arquitetônica.
Existiam em Castelo de Vide duas couraças, que se apresentavam como um pano de muralha, com uma altura equivalente a barbacã. Possuíam uma disposição em L, isentas de torres ou corpo de remate à ponta. Uma destas couraças já havia sido apanhada pelo casario no princípio do século XVI.As portas consolidavam um alinhamento noroeste-sudeste de todo a povoação, retomando o princípio romano do cardum e decumanum, em que se salienta a Rua Direita.