Por: Nelson de Paula.
"Castelo de Vide" - 05/01/2020
A vila fortificada definiu-se em redor desta artéria que apresentava as portas nas suas duas extremidades, abertas a sudeste (que ligava aos arrabaldes que para aqui se desenvolveram) e a noroeste (de onde saiam as estradas para Nisa e o resto do reino). Estas portas apresentavam uma grande robustez de construção, assim como os dois postigos instalados em panos contrários da muralha, exatamente face a face, muito utilizadas no quotidiano pelos habitantes.
Resistem dúvidas quanto à fundação original dos elementos militares do castelo de Castelo de Vide. Pedro Cid aponta como hipótese de trabalho a correspondência de alguns elementos a fases cronológicas distintas. Assim dos séculos XII ou XIII ou até islâmico pode ser a torre cilíndrica e os muros que delimitam o núcleo interno mais pequeno, do séc. XIV a torre de menagem e os panos da barbacã dando para a vila.
A fortificação abaluartada abraça tanto o castelo como a cerca medieval. Apresenta um traçado muito pouco de acordo com os tratadistas em que as muralhas têm que envolver dois morros à altura de 600 metros, descendo abruptamente para uma zona central à altura de 550 metros. É constituído por cortinas, baluartes e meio baluartes e também redentes que pretendem colmatar a difícil situação de defensibilidade desta localidade. O traçado abaluartado que hoje existe em Castelo de Vide demonstra bem como foi possível, com base na fortificação irregular, minimizar as condicionantes que o terreno impunha ao sistema defensivo.
O primitivo núcleo fortificado, nos finais do séc. XIII princípios do XIV, foi a matriz geradora da povoação. Toda a lógica de crescimento urbano de Castelo de Vide se subordinou direta ou indiretamente às condicionantes militares. De salientar que a sua torre de menagem medieval seria uma das mais imponentes torres edificadas durante o reinado de D. Dinis. Segundo alguns autores Castelo de Vide poderá assimilar-se ao movimento europeu das “bastides” e das Vilas Novas, aglomerados detentores de um planejamento prévio. Este movimento terá tido o seu auge com D. Afonso III e D. Dinis, embora não tenha seguido normas excessivamente rígidas de geometrização.
A condição estratégica e de defensibilidade que Castelo de Vide detinha no século XIV perdeu-se no século XVII, mercê da evolução de formas de fazer a guerra. Por melhor concebido que fosse o sistema de fortificação abaluartado, era difícil proteger o sistema de vida local. A configuração do aglomerado urbano no século XVII, obrigou à construção de um traçado muito pouco de acordo com os tratadistas, que com base na fortificação irregular tentou minimizar as condicionantes negativas do terreno, prevalecendo um espírito conservador, de resistência, de sobrevivência, de defesa instintiva.
A Praça Forte de Castelo de Vide é uma obra de arquitetura de valor excepcional, pela sua originalidade e concepção invulgar. Por este facto deve ser preservada ainda com mais entusiasmo. Ela resistiu aos conflitos dos séculos XVI e XVII sem ter sido abandonada, apesar dos enormes sacrifícios porque passou a população e a guarnição.