Por: Nelson de Paula.
"Castelo de Sesimbra" - 26/04/2020
Datará de 1255 a cerca que envolvia a povoação, passando a constituir-se a defesa por duas estruturas independentes: a alcáçova e a cerca da primitiva povoação, com as respectivas portas, evoluindo de um castelo românico para um castelo gótico. Essa estrutura manteve-se até ao século XVI. Sob o reinado de Dom Dinis I de Portugal (1279-1325), novos privilégios foram concedidos aos moradores: o soberano reconfirmou o foral e elevou a povoação a vila, instituindo o respectivo Concelho em 1323, e criando ainda a Póvoa da Ribeira de Sesimbra, junto ao porto.
Datará desta fase um segundo reforço geral das muralhas e a edificação da torre na extremidade sudoeste, com a função de vigia dos piratas da Barbária. Também Afonso IV de Portugal (1325-1357) e Fernando I de Portugal (1367-1383) confirmaram a seu turno o foral de Sesimbra.
Apoiante do Mestre de Avis durante a crise de sucessão de 1383-1385, quando levantado o cerco de Lisboa em 1384, a vila de Sesimbra foi episodicamente saqueada por embarcações castelhanas, conforme registrado pelo cronista: "Alçado el-Rei de sobre Lisboa, ficou a frota por alguns dias; e quando partiu, chegou a Sesimbra, onde roubaram algumas cousas que tomar puderam" (Fernão Lopes. "Crónica de Dom João I").
Com o desenvolvimento da Póvoa da Ribeira, a primitiva povoação e seu castelo começaram a perder importância, nomeadamente a partir da etapa dos Descobrimentos marítimos portugueses, quando se desenvolveram as atividades de construção naval, da pesca e do aprovisionamento das frotas.
Dom Manuel I de Portugal (1495-1521) concedeu o Foral Novo à vila (1514), período em que fez erguer junto à praia uma nova fortificação, sob a invocação de São Valentim (Forte de São Valentim, também denominado Forte da Marinha), artilhada. O mais importante testemunho desta época sobre o castelo é o Auto da Visitação efetuada em 1516 por Dom Jorge de Lencastre, então Mestre da Ordem de Santiago, filho ilegítimo de Dom João II de Portugal (1481-1495), publicado pelo capitão Sousa Larcher.
Nele se aponta que o conjunto se encontrava em avançado estado de ruína, tendo a artilharia existente sido mandada retirar pelo rei, salvo as armas pessoais do alcaide-mor. Refere-se ainda a existência, no perímetro amuralhado, de um hospital do Espírito Santo com a sua ermida, em cujo altar existiam retábulos. A porta principal do castelo "de pedraria", com suas peças de madeira "novas e bem repairadas", abria-se entre dois cubelos "fortes e bons".
À sua direita erguia-se a habitação do Alcaide-mor constituída por sala, três quartos e cozinha, em pavimento assobradado, sobre quatro lojas térreas. Numa das lojas abrigava-se a cisterna e nas outras, a adega, o palheiro e a cavalariça. A parte superior desta edificação comunicava-se, por um corredor, com a torre de menagem, que então principiava ruína. À esquerda erguia-se outra habitação, semelhante à primeira, cujo uso hoje se desconhece.