Por: Nelson de Paula.
"Castelo de Torres Novas" - 02/08/2020
Com a perda de expressão da vila frente a outros núcleos nos séculos seguintes, o castelo mergulhou na obscuridade. No século XVIII, o padre Luís Cardoso descreveu as defesas da vila:
"É esta vila de Torres Novas fortificada com um antigo castelo que em um alto, sobre penha viva, mandou edificar el-rei Dom Sancho I, com onze altas torres, feito tudo de grossa pedra e cal com seu fosso e contra-muralha, isto é, um muro reforço formando adarve, ameias, vigias e com uma praça de armas bastante a conter dentro dois regimentos.
É terraplenada e as torres por fora com sua escarpa; pela parte do norte, que olha para o rio, fica quase a prumo e para aqueles tempos, em que não havia artilharia, parecia inexpugnável." ("Dicionário Geográfico ou Notícia Histórica de todas as cidades, vilas, lugares e aldeias, rios, ribeiras e serras dos reinos de Portugal e Algarve”).
O castelo foi severamente atingido pelo terremoto de 1755, de tal modo que veio a ser permanentemente abandonado. Na ocasião ruíram quatro das torres e diversos troços da muralha medieval. À época, o duque de Aveiro, senhor de Torres Vedras, mandou reparar apenas a parede da cadeia. Pouco depois, em 1758, as casas de residência do alcaide, de tipo ogival, foram aproveitadas para instalar a cadeia e o carcereiro; os quarteis dos soldados, situados dentro do castelo, encontravam-se arruinados.
Em 1790 o alcaide-mor, Francisco Feliciano Velho da Costa M. Castelo Branco, obrigou os proprietários de terrenos contíguos ao castelo a devolver à alcaidaria as propriedades que haviam usurpado. Para prevenir futuras usurpações, José I de Portugal (1750-1777), por ordem régia mandou medir e demarcar o recinto.
Novos danos foram registrados no início do século XIX, durante a Guerra Peninsular (1808-1814) quando da passagem das tropas napoleônicas sob o comando de Jean-Andoche Junot (1807), e com maior severidade, pelas do marechal André Massena (1810), que assentou arraiais na zona urbana da vila, onde, na atual Rua Miguel Bombarda e cercanias, instalou o seu quartel-general cerca de um ano.
Após a Guerra Civil Portuguesa, ocorrida entre 1828 e 1834, o cemitério municipal começou a funcionar dentro do recinto do castelo em 1835. Maria II de Portugal concedeu oficialmente aquele espaço à Câmara Municipal de Torres Novas que já o utilizava para o mesmo fim em 3 de abril de 1839.
Esta doação precipitou a ruína do conjunto, uma vez que a opção municipal foi a desmantelar a estrutura: em 1854 registrou-se a demolição de duas torres e de um lanço de muralha do lado do rio e, posteriormente, registraram-se sucessivamente o apeamento dos Arco de Santa Maria (1860), do Salvador (1864), da Praça (1876), e do Vento (1833).