Por: Nelson de Paula.
"Castelo de Castro Marim" - 22/11/2020
Ainda no reinado de Dom Dinis, diante da extinção da Ordem dos Templários, por Bula do Papa João XXII (em 14 de Março de 1319), Castro Marim foi doada à recém-criada Ordem de Cristo que ali estabeleceu a sua primeira sede, de 1319 a 1356. Com a transferência da sede para Tomar, por ordem de Dom Pedro I de Portugal, a importância estratégica da vila diminuiu, começando a despovoar-se.
Desse modo, já nas Cortes de 1361 se ouviam reclamações contra as Ordens Militares de maneira geral, acusadas mais tarde, em 1475, de trazerem derrocados os castelos do Algarve, citando-se nominalmente o de Castro Marim. Note-se que Dom João I já havia passado foral à vila, instituindo-lhe o privilégio de couto para 40 homiziados (em 10 de Abril de 1421) visando ao incremento da população.
O Infante Dom Henrique, nomeado Mestre da Ordem, residiu neste castelo. Posteriormente, sob o reinado de Dom Manuel I, a vila recebeu o Foral Novo (em 20 de Agosto de 1504), momento em que o soberano ordenou a reparação das suas defesas, inclusive as muralhas do castelo. Estes trabalhos encontram-se registrados por Duarte de Armas no seu Livro das Fortalezas: no castelo, de planta quadrangular, destacava-se, a sul, a alta torre de menagem de planta também quadrangular, adossada à muralha. Esta muralha era reforçada por cubelos de planta cilíndrica nos vértices.
Externamente, uma cerca ameada, de planta irregular, orgânica, envolvia a vila. Nesta cerca se destacavam:
• no vértice a leste, um torreão de planta quadrangular coroado por merlões, no qual se rasgava uma porta em arco reto, precedida por uma ponte levadiça;
• no vértice a oeste, um torreão de menores dimensões, rasgado por uma porta em arco pleno com fecho decorado pela pedra de armas;
• no lado norte, ao nível do solo, rasgava-se um pequeno arco de canalização.
Com o início da expansão marítima portuguesa, a região do Algarve revestiu-se de nova importância estratégica, pela sua proximidade com as praças do Norte d’África. Estas obras atendiam um duplo objetivo: o suporte logístico às praças africanas e o de vigilância diante da ação de corsários, ativos na região. Outras praças algarvias, entretanto, modernizaram-se ao longo do século XVI, o que não se registrou em Castro Marim.
No último quartil do século XVI, a vila e seu castelo eram assim descritos no livro Chorographia do Reyno do Algarve, de 1577 de Frei João de São José :
• "Está Castro Marim situado na cabeça de um monte alto, de todas as partes cercado de mar senão de poente, e o sítio é bem acomodado ao lugar donde está, que é fronteira de Castela, onde tem por competidora uma grande vila, mas espalhada, chamada Aiamonte.
• É o mais desta vila cercado com boa fortaleza e o seu arrabalde e tudo junto representa majestade aos que veem de longe, pelo ligar alteroso, em que está posta, com que mostra seus edifícios, tudo o qual bem considerado, parece que favorecido pela natureza, está ameaçando não só a sua vizinha Aiamonte mas toda a Castela."