Por: Nelson de Paula.
"Castelo de Santarém" - 31/01/2021
Em termos de historiografia, uma importante fonte documental sobre o assalto a Santarém é o manuscrito "De expugnatione Scalabis", redigido por monges do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra para assinalar o feito do soberano. A povoação e seu castelo encontravam-se no caminho da investida do califa almóada Abu Iacube Iúçufe I, sendo atacados em 1171.
As forças muçulmanas, na ocasião, foram dispersadas pelas tropas de Fernando II de Leão, genro de Dom Afonso Henriques, que na ocasião se encontrava em Santarém. Um novo ataque muçulmano se materializa em 1181, encontrando-se na cidade o infante Dom Sancho, tendo os assaltantes recuado diante de uma contra-ofensiva dos defensores.
O alcaide de Santarém foi dos que, já em 1245, reconheceram a autoridade do Infante Dom Afonso, quando este chegou a Portugal, de que fora nomeado regente em substituição ao seu irmão, Dom Sancho II, deposto pela autoridade do Papa. Mais tarde, em 1324, Santarém e seu castelo se colocaram a favor de outro Infante Dom Afonso, este filho de Dom Dinis, quando este se revoltou contra o seu pai. Dominada a revolta pelas forças do monarca, este aqui viria a falecer, a 7 de Janeiro de 1325.
Sob o reinado de Dom Fernando, este procedeu-lhe reforço e ampliação nas defesas, como por exemplo a reforma da Porta de Santiago, em arco ogival (em 1382). Com a sua morte, abrindo-se a crise de 1383-1385, em seus muros se refugiou, após o Natal de 1383, a rainha viúva, Dona Leonor Teles, que antes tentar fazer alçar pendão na cidade por sua filha, Dona Beatriz, como rainha de Portugal e de Castela.
Tendo a rainha viúva solicitado a intervenção de Castela, a ela se reuniu o seu genro, João I de Castela, a quem entregou o regimento e senhorio do reino com o apoio de boa parte da nobreza portuguesa (em Janeiro de 1384). João I de Castela colocou nos muros de Santarém uma guarnição castelhana, e a praça só retornou a mãos portuguesas imediatamente após a batalha de Aljubarrota (em 1385).
Um último Infante Dom Afonso marcaria a história da vila e seu castelo: alguns estudiosos apontam o falecimento do filho de Dom João II, em um trágico acidente de cavalo no Mouchão de Alfange, às margens do rio Tejo (em 1491), como uma das razões do afastamento da Corte da vila de Santarém e o seu consequente declínio de importância administrativa no reino.
As defesas de Santarém foram severamente danificadas pelo terremoto de 1531. Dom João IV (1640-1656), no contexto da Guerra da Restauração, e, mais tarde, Dom Miguel (1828-1834), no das Guerras Liberais, promoveram, em cada período, obras de modernização e reforço nas defesas da vila. Este último serviu-se do castelo da vila como reduto, de Outubro de 1833 a 17 de Maio de 1834.
Com a paz e o progresso econômico, foi elevada a cidade em Dezembro de 1868. A expansão da malha urbana, que agora se acelerava, absorveu as suas defesas medievais, das quais restam, em nossos dias, apenas remanescentes como o recinto fortificado da Alcáçova, a Porta de Santiago, a Porta do Sol e alguns troços das muralhas, classificados como Imóvel de Interesse Público.