Por: Nelson de Paula.
"Castelo de Santarém" - 07/02/2021
A partir da década de 1990 foram iniciados trabalhos de prospecção arqueológica visando identificar troços remanescentes das antigas muralhas, consolidando alguns deles. No recinto da Alcáçova, pesquisado pelo Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa com o apoio do Instituto Português do Patrimônio Arquitetônico (IPPAR), foi trazido à luz um podium (base) de um templo romano com cerca de 15 metros de lado, que se presume datar do século I a.C..
Castelo de montanha, com elementos do estilo românico e do estilo gótico, era primitivamente integrado pelo recinto da alcáçova e pela muralha da vila, defendida por uma barbacã. Também possuíam cerca os bairros ribeirinhos da Ribeira e do Alfange. A cerca da vila era rasgada por sete portas, determinadas pelas sete vias de acesso: Porta do Sol, de acesso ao Alfange; Porta da Alcáçova; Porta de Leiria; Porta de São Manços e postigo de mesmo nome; Porta de Alpram ou de Alporão, de acesso a Marvila; Porta de Valada.
Destas, restam apenas vestígios das duas primeiras. Um brasão de armas de Portugal, ladeado por uma epigrafia (atualmente mutilada e ilegível) ladeia os restos das ogivas, interna e externa, da Porta de Santiago. Outras referências existem à Porta de Atamarma (de acesso à Ribeira), à Porta das Figueiras, ao Postigo de Gonçalo Eanes (da Carreira ou de D. Margarida), ao Postigo de Santo Estevão, ao Postigo de Vale de Rei, ao Postigo de Gonçalo Correia (na muralha que delimitava uma zona intermédia entre a Alcáçova e Marvila, à sombra da Igreja de São Martinho), e o Postigo do Ferragial (em Marvila).
Das primitivas torres são referidas a Torre do Bufo, na Alcáçova, a Torre de Manços e a torre albarrã ou também denominada como torre de menagem, junto à Alcáçova. Chegaram aos nossos dias: o recinto junto à Porta do Sol com três torreões coroados por merlões, que se prolonga sobranceiro ao vale do Alfange, na ribeira, integrado por uma guarita seiscentista em um dos vértices.
Troços de muralha junto à Porta da Traição, no monte sobranceira à Fonte das Figueiras; troços da cerca da vila na escola primária de Marvila (bairro do Pereiro) e fronteiros à igreja dos gracianos, o chamado Cabaceiro ou Torre das Cabaças.
Desses vestígios conclui-se que as muralhas medievais apresentavam panos verticais, coroados por merlões prismáticos, rasgados por seteiras e reforçados a espaços regulares por baluartes de planta quadrangular e semicircular e por torres quadrangulares. As portas de acesso apresentavam vão em arco quebrado. Com relação à fortificação seiscentista, em estilo maneirista, era integrada por um revelim de planta triangular, com panos em talude e guarita encimada por uma cúpula no vértice.