Por: Nelson de Paula.
"Castelo de Aljezur" - 14/03/2021
O castelo teria sido construído para alojar apenas uma guarnição. Em termos de espólio, foram encontrados poucos vestígios das ocupações mais remotas na colina do castelo, tendo por exemplo os vestígios da Idade do Bronze sido descobertos numa camada descontínua e de reduzida espessura, logo acima do substrato rochoso. Por outro lado, as camadas relativas à Idade do Ferro e à época romana foram muito danificadas, principalmente durante o período de abandono antes da ocupação islâmica.
As peças da Idade do Bronze período incluem recipientes cerâmicos, como taças carenadas e contentores, semelhantes às recolhidas no sítio arqueológico da Cerradinha, em Santiago do Cacém. Quanto à Idade do Ferro e ao período romano, foram descobertas partes de ânforas e cerâmicas finas, de englobe negro e campanienses.
Várias destas peças foram produzidas a nível local ou regional, enquanto que outras, como as cerâmicas finas campanienses e as ânforas vinárias dos Séculos II a I a.C., terão sido feitas na Península Itálica ou noutras partes do Mediterrâneo, indicando desta forma que a antiga povoação de Aljezur mantinha ligações com o exterior.
Foram igualmente encontrados vestígios do período medieval islâmico, incluindo duas moedas, peças metálicas, e fragmentos de recipientes em cerâmica, como jarros, púcaros, alguidares, taças esmaltadas e vidradas, panelas, cântaros e talhas. Também foram recolhidos vestígios de alimentação durante o domínio muçulmano, como peixe, mamíferos domesticados ou selvagens como e muitas conchas de moluscos, tanto de estuário como marítimos.
Desta forma, constata-se que a alimentação durante aquele período era muito variada, e que as principais atividades económicas seriam a pesca e a agropecuária, seguidas pela caça e recolha de marisco. Foram igualmente descobertas escórias de fundição no castelo, que indicam a presença de uma metalurgia do ferro.
O Castelo de Aljezur é considerado um dos mais impressionantes e importantes no Algarve. Foi classificado em 1977 como Imóvel de Interesse Público, enquanto que a Zona Especial de Proteção foi definida pela Portaria n.º 220/2010, publicada no Diário da República n.º 55, II série, de 19 de Março de 2010.
As escavações arqueológicas no local, dirigidas por Carlos Tavares da Silva, permitiram identificar várias cronologias de ocupação, tendo sido encontrados vestígios da Idade do Bronze, com cerca de três mil anos, e da segunda Idade do Ferro até ao período republicano de Roma, entre os Séculos IV e I a.C..
Durante o período romano, o local onde posteriormente foi construído o castelo poderá ter sido ocupado por um castro dos povos Lusitanos, enquanto que os próprios romanos terão instalado ali um posto de vigia. Esta função como posto de vigia terá sido retomada pelos Visigodos, entre os séculos VII e VIII.
Porém, a fundação do castelo em si só terá ocorrido no Século X, durante o período medieval islâmico, durante o qual também foi criada a povoação de Aljezur. Com efeito, as estruturas fortificadas do castelo foram identificadas como pertencendo a este período, tal como algumas construções no seu interior.
Os vestígios de cronologia muçulmana podem ser separados em duas fases distintas, sendo a primeira correspondente a várias estruturas, provavelmente de uso residencial, e das quais restaram as paredes, encimadas por taipa, e os pisos, alguns deles com lajeado. As muralhas pertencem a uma segunda fase, tendo sido provavelmente erigidas durante os princípios do segundo período do Califado Almóada, entre os Séculos XII e XIII, período em que também terão sido escavados os silos no interior do castelo.