Por: Nelson de Paula.
"Castelo de Loulé" - 19/06/2022
A Sul do conjunto do castelo, a muralha foi parcialmente aproveitada como apoio para um edifício de 2 pisos, com a fachada voltada para a Rua das Bicas Velhas. O andar superior foi reconstruído num período relativamente recente, provavelmente já do Século XX, mas o piso térreo é muito mais antigo, contando com vários grossos arcos, que certamente serviam para sustentar grandes construções.
Este piso comunicava com um recinto a Norte, que por sua vez estava ligado à torre mais meridional do castelejo, tendo sido descobertos vestígios de uma antiga porta em arco na estrutura da torre. No piso térreo do edifício também existia uma antiga porta em arco que foi entaipada, e que está voltada para o conjunto conhecido como Casas do Castelo.
A muralha islâmica, foi construída segundo o processo da taipa, tendo sobrevivido alguns segmentos dentro da malha urbana da cidade. Nas imediações da antiga parte Norte da muralha, junto à desaparecida cerca do Convento da Graça, foi recolhido um rico espólio islâmico, demonstrando que esta parte da antiga medina tinha sido ocupada de forma intensa a partir do Século X.
Quando estavam inteiras, as muralhas encerravam um perímetro de grandes dimensões, com cerca de 5 hectares que também servia como prova da importância de Loulé. Um dos principais vestígios da presença das antigas defesas é a organização dos arruamentos no interior da cidade, que foram criados quando as muralhas ainda existiam e permaneceram no mesmo local após a sua progressiva demolição, criando assim um registro físico do antigo percurso das muralhas.
Imediatamente a Sul da Rua das Bicas Velhas sobreviveu parte da muralha, nas traseiras das casas da Rua Garcia da Horta, e um torreão, cuja altura é inferior à dos telhados em redor. De acordo com Ataíde de Oliveira, a desaparecida Porta Nova estava situada aproximadamente no local das Escadinhas da Horta d'El Rei. A muralha seguia depois junto à Calçada dos Sapateiros, tendo sido encontrados alguns vestígios naquela rua e no interior dos edifícios.
O lance das muralhas ao longo da Rua Martim Moniz encontra-se em muito melhor estado de conservação, podendo ser dividido em duas partes distintas. O lance Norte perdeu completamente a estrutura superior, servindo a metade inferior como suporte aos terrenos do Jardim dos Amuados, antigo cemitério municipal. A parte mais a Sul, até ao entroncamento com a Rua Engenheiro Duarte Pacheco, estava em melhores condições, com o muro completo e o caminho de ronda, mas já sem as ameias.
Ao longo da Rua Duarte Pacheco também sobreviveram alguns lances anexos aos edifícios, tendo perdido totalmente as ameias e a maior parte do caminho de ronda. Nesta rua destaca-se uma imponente torre albarrã em taipa, situada fora das muralhas, às quais estava ligada por uma pequena ponte, que também sobreviveu, apesar de rodeada de edifícios. Esta estrutura é conhecida como Torre da Vela.
A Oeste situava-se uma das entradas da cidade, a chamada Porta de Faro, que apesar de ter sido profundamente modificada ainda apresenta alguns traços da construção almóada. Com efeito, num período relativamente recente, foi feita uma nova abertura na muralha ao lado da antiga entrada, para a passagem da Travessa de Nossa Senhora do Pilar, de acesso ao Largo Professor Cabrita da Silva.