Por: Nelson de Paula.
"Castelo de Loulé" - 26/06/2022
A antiga porta foi entulhada e tapada do lado Sul pela Capela de Nossa Senhora do Pilar, que foi possivelmente construída em parte com materiais retirados do conjunto da porta, que incluía uma torre. O sítio onde estava esta torre foi depois ocupado por uma moradia com duas janelas e açoteia, cujas paredes, feitas em alvenaria com um aparelho de blocos de pedra, são semelhantes às das muralhas.
O lado Norte da antiga Porta de Faro foi descoberto em 1969, durante obras de restauro das muralhas por parte da Direção-geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. O lance das muralhas desde esta porta até à Rua Primeiro de Dezembro desapareceu em grande parte, restando apenas uma torre e parte de um muro, com caminho de ronda.
Daqui até à Avenida Marçal Pacheco apenas sobreviveu um pequeno fragmento de muralha anexa a um quintal, onde foram igualmente recolhidos peças de cerâmica muçulmana, incluindo grandes talhas, uma das quais foi preservada no museu municipal. A muralha faria aqui um ângulo com cerca de 90 graus, partindo sensivelmente para Norte até perto do Mercado Municipal.
Não sobraram quaisquer vestígios evidentes da muralha neste lance, embora provavelmente seguisse a meio das casas no quarteirão entre a Rua Primeiro de Dezembro e a Avenida Marçal Pacheco, uma vez que em 1971 alguns dos edifícios ainda apresentavam paredes de grande espessura, além que alguns imóveis junto ao Mercado não seguiam a orientação da rua, pelo que poderiam estar alinhados com a antiga muralha.
Neste lance de muralha existia originalmente uma torre, que foi identificada por Ataíde de Oliveira como a Torre do Relógio, e que supostamente terá sido demolida em 1970 para a construção de uma casa na Rua Marçal Pacheco. No local da Rua Pedro de Freitas, antigo Largo do Carmo, existia outra das entradas da cidade, a Porta da Vila, que foi destruída em 1873, em conjunto com grande parte das muralhas e a Ermida de Nossa Senhora do Carmo.
Segundo Ataíde de Oliveira, em 1907 outro lance das muralhas foi demolido para a construção do Mercado Municipal e a urbanização daquela área. Com efeito, durante as obras do mercado foram feitos aterros com cerca de dois metros de profundidade, para os alicerces do edifício, tendo sido nessa altura encontrados silos com vestígios do período islâmico.
De acordo com Ataíde de Oliveira, sensivelmente no intervalo entre o Mercado e a Câmara Municipal situava-se a desaparecida Porta da Rua do Postigo, posteriormente renomeada para Rua Nove de Abril. O nome original fazia referência ao chamado postigo ou porta da traição, que era normalmente instalado nas povoações amuralhadas.
A muralha passava depois a meio do edifício da Câmara Municipal, tendo sobrado apenas um fragmento, nas traseiras da nova Torre do Relógio. Ataíde de Oliveira considerou que esta torre era de construção totalmente moderna, embora a sua estrutura revele duas fases muito distintas, uma vez que a parte inferior apresenta uma alvenaria muito semelhante à utilizada nas antigas muralhas, enquanto que a parte superior é definitivamente moderna.