Por: Nelson de Paula.
"Castelo de Loulé" - 03/07/2022
Outra parte da antiga muralha era visível ao longo do limite Nordeste do antigo Convento do Espírito Santo, terminando ao longo da parede Sudoeste da Ermida de Nossa Senhora da Conceição. Com efeito, a ermida terá aproveitado a antiga estrutura da muralha para servir como parede, podendo ter sido construída no local de uma torre, situada no lado de fora das muralhas, e que protegia uma entrada da povoação, a Porta de Portugal.
Com efeito, durante obras de remodelação no interior da ermida, foram encontrados indícios das antigas defesas islâmicas, nomeadamente dois lances de muralha e uma torre. Foram igualmente descobertos os alicerces desta porta, tendo-se apurado que apresentava uma configuração em cotovelo, típica do período islâmico.
Segundo documentos consultados por Ataíde de Oliveira, nem a Ermida de Nossa Senhora da Conceição nem as Capelas da Senhora do Carmo e da Senhora do Pilar, ambas situadas junto a portas da vila, existiam antes de 1565. Ataíde de Oliveira registrou igualmente que em frente da ermida estava situado um moinho de vento, que poderá ter assentado sobre os alicerces da segunda torre que protegia a porta, de forma a ficar a uma maior altitude.
Entre o conjunto do castelejo e a rua em frente da Ermida de Nossa Senhora da Conceição, foram encontrados vestígios das muralhas encostados aos edifícios, no interior ao pátio conhecido como Casas do Castelo. Segundo Estácio da Veiga, estes edifícios foram utilizados como aquartelamento por um regimento de dragões durante o Século XVIII.
Outros indícios das antigas muralhas islâmicas, com o correspondente adarve, foram encontrados em 2000, durante trabalhos arqueológicos numa pequena casa na Travessa de Martim Farto, no centro histórico. Também foram encontrados vestígios de uma muralha por debaixo da fachada posterior da Casa das Bicas, junto ao Largo Dom Pedro I, que tinha cerca de 3 m de espessura, e era formada por blocos de pedra calcária da região, com uma argamassa em cal.
Da primitiva Medina restou uma torre de planta quadrangular, originalmente o minarete da mesquita muçulmana, que terá sido adaptado para a torre sineira da Igreja Matriz de Loulé. A área da Igreja Matriz é provavelmente a mais antiga em Loulé, sendo ali encontrados os mais remotos vestígios das muralhas Segundo o Livro I das Doações de Dom Afonso III, citado por Ataíde Oliveira na sua obra Monografia do Concelho de Loulé, a mouraria, uma zona residencial onde viviam os habitantes islâmicos após a reconquista, estava situada junto à igreja, mas fora das muralhas.
A povoação terá sido conquistada pelas forças islâmicas no ano 715. Durante o período em que a região esteve sob o domínio islâmico, Loulé era conhecida como al-Ulya, ou Aloalia, nome que foi referido pelo geógrafo muçulmano Ibne Saíde Almagribi. Este nome significava o Outeiro, e que provavelmente foi inspirado pela sua localização.
A povoação atingiu uma grande importância como centro administrativo, como descrita pelos geógrafos muçulmanos. Com efeito, o próprio castelo pode ser considerado como um dos testemunhos da importância da cidade islâmica, devido ao grande perímetro no interior das muralhas.