Por: Nelson de Paula.
"Castelo de Celorico da Beira" - 24/09/2023
Os muros, desprovidos de merlões, conservam o adarve e as escadas de acesso, sendo rasgados por duas portas: a principal, a sul, e a Porta da Traição, a oeste. Ambas as portas são em arco de volta quebrada, recobertas por abóbada de berço quebrado, conservando os gonzos de cantaria, comunicando com a parte histórica da vila.
Desprovido de fosso, o conjunto apresenta, ainda, adossados externamente pelo troço oeste da muralha, dois cubelos um de planta quadrangular irregular e outro de planta trapezoidal irregular, ambos também desprovidos de merlões. Internamente, no ângulo sudeste da cidadela, ergue-se a hoje chamada torre de menagem, com planta quadrangular, em três pavimentos, com cobertura ameada, rebaixada a quatro águas, decorada com gárgulas.
Pela sua disposição e características construtivas, alguns autores defendem ser esta a primitiva torre de menagem. Outros, ao contrário, afirmam ter sido a de menagem uma outra torre, demolida em algum momento do século XIX, que se erguia ao centro da praça de armas, sobre a cisterna.
Esta torre remanescente apresenta o alçado principal pelo lado sul, acedida ao nível do segundo pavimento por porta em arco reto, encimada por arco de descarga em volta quebrada. Internamente os pavimentos e suas respectivas escadas de acesso são de madeira.
O Castelo de Celorico da Beira tem uma lenda. É a lenda de Fernão Rodrigues Pacheco, que diz que após a deposição de D. Sancho II em 1245, sendo o governo do reino confiado ao seu irmão, o infante D. Afonso, refugiou-se o primeiro em Toledo, no reino de Castela. Reza a lenda que Fernão Rodrigues Pacheco, alcaide do Castelo de Celorico da Beira, fiel a D. Sancho II, a quem prestara menagem, recusou-se a entregá-lo ao regente, mesmo suportando um longo cerco (1246).
Quando na praça já começava a sentir-se a fome, o alcaide, inabalável, pedia aos Céus uma solução que não implicasse no desdouro de sua honra. Neste momento, percebeu nos ares uma águia trazendo nas garras uma truta, apanhada no rio Mondego.
Ao esvoaçar por sobre o castelo, deixou sua presa cair, o que sugeriu ao alcaide um estratagema: mandou fazer pão com a sua última farinha e cozinhar a truta, enviando-os como um presente ao príncipe-regente, com a mensagem de que, se por fome o esperava tomar, que visse se os homens que daquela vianda eram bem abastecidos, se teriam razão de entregar-lhe, contra as suas honras, o castelo.
Impressionado, o príncipe levantou o cerco, tendo o castelo mantido a sua menagem até o falecimento de D. Sancho II. O feito é recordado no brasão de armas de Celorico da Beira, exaltando a lealdade, o valor e astúcia da vila.